Encontro marcado comigo mesmo em A Arte de se Inspirar: uma Semibiografia
Encontro marcado comigo mesmo em A Arte de se Inspirar: uma Semibiografia
Por Gustavo Henrique Justino de Oliveira
8 de outubro de 2023, 8h00
No último dia 4 de outubro de 2023, após aproximadamente três anos de trabalho ininterrupto, que envolveu inúmeros profissionais, amigos, orientandos e alunos, lancei em São Paulo A Arte de Inspirar: uma Semibiografia no Direito, parceria entre a Editora Amanuense com o selo DMJus (Desenvolvimento e Mentoria Justino de Oliveira), nossa startup de inovação em educação jurídica.
Um livro e uma noite longamente planejados e afetivamente realizados por muitos, não somente por mim. Pensem no evento que ocorreu na Casa Quintal como um grande sarau, em que no centro está um livro, rodeado de música, artistas, vídeos, fotos, poesia, literatura. Ao contar parte significativa da minha estória em livro, minha intenção não foi unicamente a de atingir um marco pessoal, mas sim contribuir para que muitos profissionais e professores do Direito pudessem se reconhecer nessa travessia diária, e que eu decidi registrar enquanto literatura.
Que todos e todas possam não somente se inspirar na minha estória, mas quiçá valorizar e reconhecer suas próprias estórias como dignas e importantes, e que certamente merecem ser contadas em livro, em prosa, em verso, em podcast, em música, nas redes sociais, no YouTube, no TikTok ou em qualquer outra plataforma, clássica ou contemporânea.
Eu escolhi o livro: um dos meus maiores amores desde sempre, meu companheiro, minha base e meu destino. E é sobre este projeto editorial, literário, autoral, existencial e espiritual, que eu gostaria de falar um pouco na nossa coluna de hoje.
Por que escrever uma autobiografia? Após 32 anos de atividade como advogado, 27 anos de magistério – sendo 15 anos na USP, cinco anos no IDP de Brasília, focados no Direito Administrativo – olhei com atenção para todas as minhas vivências e experiências, sobretudo aquelas vinculadas ao magistério em Direito Administrativo. Tenho estado muito preocupado com um cenário de grave crise social e institucional que assola o país – incluindo as educacionais e universitárias – que já não têm dado conta, sozinhas, do processo de transmissão do conhecimento e formação dos bacharéis em Direito; por isso vêm florescendo novos espaços de aprendizagem, espaços e processos mais humanizados e centrados no desenvolvimento do ser humano, como a DMJus!
Percebi que eu tinha uma estória para contar: a minha estória, fortemente pautada no ensino e na educação como instrumentos do meu desenvolvimento, e dos meus alunos, orientandos, público e audiência em geral; percebi que tomamos muito tempo observando e até valorizando a vida do outro, e esquecemos que somos protagonistas da NOSSA vida.
Participamos de eventos e processos de reconhecimento e homenagem à vida e às vitórias de ídolos, celebridades do Direito, de tantos outros, mas não conferimos tempo para apreciar, valorizar e reconhecer as nossas vitórias, a nossa trajetória, aplaudir a nossa existência. Reconhecer ou buscar reconhecimento tem o seu valor, obviamente. Porém, autorreconhecimento tem um significado muito maior para mim atualmente, e deveria ter para todos nós.
Portanto, decidi buscar um “hiato criativo”, mergulhar na minha trajetória, documentar, registrar e aprender com ela, para talvez assim poder seguir em frente mais firme, mais forte, mais consciente.
O livro é sobre este momento de perda intencional do autocontrole que “achamos” que temos, seguido de uma intensa fase de autorreflexão. Meus propósitos: (1) revelar o ser humano por trás do professor Justino e do dr. Justino, o Gustavo e (2) apresentar a trajetória de vida do Gustavo, até se transformar no jurista Justino.
Parafraseando Fernando Sabino – e seu alter ego Eduardo Marciano –, descobri que tinha um Encontro Marcado, mas este encontro era comigo mesmo: compareci, permaneci e não fugi do meu compromisso.
Se eu pudesse qualificar o processo pelo qual eu passava, não se tratava propriamente de uma “crise de meia idade”, e sim algo mais complexo e intenso, um fenômeno reconhecido e estudado pela psicologia denominado “metanoia“, também presente na filosofia e na teologia, mas com contornos diferenciados.
Eu não estava mais diante das “dores do crescimento”, típicas da 1ª fase da vida, e sim de novas e desconhecidas dores, por me deparar com os diferentes sentidos da “finitude da vida”. Quais desafios eu (ainda) gostaria de vivenciar a partir desse processo de amadurecimento que nos acomete a todos e a todas em momento mais avançado da nossa existência? E assim revisitei meus propósitos, meus desejos, meus medos, meus sucessos e insucessos, minha luz e minha sombra, identifiquei novos papeis e busquei ressignificar os mais antigos e conhecidos.
O livro é sobre MATURIDADE: sobre o Gustavo maduro, e por onde ele ainda quer caminhar e aonde deseja chegar!
Fui resgatando da memória eventos, momentos decisivos, percalços, desafios, conquistas, e organizando tudo isso mentalmente, sem muita preocupação com uma linha cronológica. Percebi algo que sempre valorizei na vida, mas não era tão evidente para mim: o poder vital e transformador do enraizamento, muito no sentido proposto e desenvolvido pela filósofa francesa Simone Weil.
Portanto, o livro é sobre minhas raízes.
Mentalmente reencontrei figuras chaves que sempre me impulsionaram para frente, em diferentes fases da minha vida: a Vó Nena, o Gerum, o Walter, o Júlio, a Claudia e a Dani, a Marcela, o Rodrigo, o Luis Carlos, a Profa. Odete, o professor Clèmerson, o professor Marcos Juruena, a Marisa, o dr. Frederico, a Marleth… e identifiquei que na vida de muitas pessoas talvez EU pudesse ter sido aquele que acreditou nelas e as instigou a se movimentarem para frente.
E naturalmente surgiu um novo papel para mim, decorrente da minha trajetória e das minhas vivências interativas e dialógicas com toda essa rede, não somente acadêmica ou profissional, mas afetiva e emocional: surgiu o Gustavo MENTOR, e surgiu a DMJus – Desenvolvimento e Mentoria Justino de Oliveira, startup de inovação em educação jurídica, que eu e minha sócia Marleth Reis, pedagoga, professora e produtora cultural acabamos de fundar.
O livro também é sobre isso: um novo e importante capítulo na minha vida, o meu encontro com a mentoria jurídica, um novo ofício, que sei, deve durar até os fins dos meus dias…
Todas as nossas vivências e experiências nos tornam o que somos hoje, nos tornam mais ou menos resilientes e empoderados, acaso consigamos superar de algum modo parte da negatividade e das sombras que muitas vezes nos atormentam e que cotidianamente a vida nos impõe. A literatura e a poesia retratam tudo isso, e são essenciais para nos dar força e sabedoria, assim como a religião, a terapia, os afetos, o descanso, o lazer, a autorreflexão. O livro contempla estes movimentos vitais e existenciais que nos atravessam todos os dias.
A Arte de se Inspirar é uma ode, uma homenagem ao magistério, um livro lançado no mês de outubro, o mês do professor e da professora! Por isso espero que gostem do livro, do fundo da minha alma e com todo o meu afeto. Foi lançado no dia 4/10, Dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos mais necessitados, um dos meus santos preferidos, que nos faz ter atenção em buscar perceber o outro, com empatia e alteridade, exatamente como fazemos nós, professores, todos os dias no nosso ofício.
Embora eu valorize todas as profissões e ocupações, eu gostaria de prestar uma homenagem EXPLÍCITA, por meio do livro, ao magistério, aos professores e às professoras do Brasil, esta profissão tão maltratada, tão atacada, tão menosprezada nos dias de hoje, mas que me fez chegar até aqui – como sujeito, como verbo, como ação, como intervenção, como transformação – me fez ser quem eu sou, me faz vibrar e me faz transbordar de afeto em cada aula, em cada palestra, em cada curso, em cada artigo, em cada livro que escrevo.
Mais do que isso: o livro é especial para mim, porque é inteiramente dedicado ao professor Justino, a tudo que ele construiu nesses seus 53 anos de vida – e vai continuar construindo, com novos canais e novos papeis – e já deixa de legado parcial às novas e futuras gerações do Direito no Brasil.
Para conhecer a obra recém-lançada, basta clicar aqui ou aqui. Boa leitura!
Gustavo Henrique Justino de Oliveira é professor doutor de Direito Administrativo na Faculdade de Direito na USP e no IDP (Brasília) árbitro mediador consultor advogado especializado em Direito Público e membro integrante do Comitê Gestor de Conciliação da Comissão Permanente de Solução Adequada de Conflitos do CNJ.